Abril Azul: conhecendo o amplo universo do Transtorno do Espectro Autista
O Abril Azul é uma campanha criada pela ONU para ampliar os conhecimentos sobre o tema e promover a inclusão das pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) na sociedade.
A iniciativa é um ponto de partida para reforçar a importância de promover o acesso à informação sobre sintomas, diagnósticos e tratamentos, além de ser um passo essencial na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva com pessoas neuro divergentes.
No Grupo Atlas Copco, o TEA é uma pauta presente, já que nos empenhamos em abrir portas às pessoas profissionais que buscam uma oportunidade de trabalhar conosco, oferecendo suporte aos colaboradores com o transtorno do espectro autista ou que têm familiares diagnosticados.
A seguir, você confere informações importantes para entender um pouco mais sobre o amplo universo do TEA.
Vamos falar sobre o Transtorno do Espectro Autista
De acordo com a quinta e mais recente edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), o espectro autista é um transtorno do neurodesenvolvimento. As principais (mas não únicas) características que revelam esta condição são:
prejuízos na comunicação e interação social;
desenvolvimento de padrões restritos e repetitivos de comportamento, podendo trazer desafios nessas áreas desde a primeira infância, quando costumam ser identificados os primeiros sinais do transtorno.
O assunto vale a atenção e o conhecimento de todos, pois para construir uma sociedade mais inclusiva é preciso, em primeiro lugar, ter informação.
Para nos ajudar nessa missão, convidamos Carol Alves, Psicóloga, Mestre em Psicologia Experimental e Análise do Comportamento pela PUC de São Paulo que trabalha com TEA e outras condições do neurodesenvolvimento há 14 anos.
Ela compartilha um pouco de seu conhecimento e experiência sobre diagnóstico, tratamentos e desafios das pessoas com o transtorno do espectro autista, seus familiares e redes de apoio.
Os termos adequados para nos referirmos às pessoas no espectro autista
De acordo com Carol Alves, o mais correto é dizer que a pessoa tem Transtorno do Espectro Autista (também conhecido pela sigla TEA) ou “tem autismo”: “Não devemos dizer que a pessoa ‘é autista’, pois dessa forma colocamos a condição antes da pessoa na equação quando, na realidade, cada pessoa é um universo que vai muito além de um conjunto de características, sejam elas físicas ou pertencentes à condição do neurodesenvolvimento”.
Ainda segundo Carol, é comum encontrarmos pessoas com TEA que se autodenominam autistas e consideram o autismo como um ponto central de seu jeito de ser e estar no mundo, e está tudo bem. “Isso depende de como o diagnóstico surgiu e veio sendo apropriado historicamente pelos próprios indivíduos no espectro, e pelos diferentes grupos sociais e culturas mundo afora”, completa.
Como começar a identificar o espectro autista
Carol afirma não existir características que se repitam exatamente da mesma forma em duas pessoas com TEA.
Antigamente isso era avaliado com uma régua, de um lado menos habilidades e de outro alguém quase “típico”. Hoje o espectro é desenhado como um radar, uma forma mais circular, em que encontramos indivíduos com dificuldades diferentes (ou sem dificuldades) em cada uma das principais áreas do desenvolvimento.
A área de saúde padroniza esse radar em três níveis.
No nível um, indivíduos podem ter dificuldades sociais discretas e podem, ou não, aparecer comportamentos repetitivos.
No nível dois, podem necessitar de suporte mais substancial para se envolverem em atividades sociais e educacionais.
No nível três, os indivíduos geralmente precisam de suporte significativo em várias áreas da vida, incluindo comunicação, habilidades sociais e autocuidado, podendo precisar de suporte constante de cuidadores ou profissionais para realizar tarefas diárias, como se vestir, se alimentar e comunicar necessidades básicas.
O processo envolvido no diagnóstico do TEA
O autismo é mapeado por meio de um diagnóstico clínico. Não existe um marcador orgânico ou um conjunto de marcadores que esteja presente de forma consistente e total em todos os casos.
Normalmente, os primeiros sinais são identificados por psicólogos, fonoaudiólogos, por terapeutas ocupacionais ou pelo professor na escola. Após essa identificação, é preciso buscar por psiquiatras ou neurologistas, com especialidade ou experiência em transtornos do neurodesenvolvimento.
“A partir daí, o profissional fará uma combinação de procedimentos, que envolvem descartar outras condições médicas que podem produzir sintomas semelhantes ao TEA, além de realizar uma observação direta do comportamento e do histórico de desenvolvimento da pessoa, pautado nos critérios estabelecidos no DSM-5 ou na Classificação Internacional de Doenças (CID-10)”, destaca Carol.
Esses processos podem levar tempo para serem concluídos, mas uma vez que exista a hipótese diagnóstica de TEA e a percepção de prejuízos no desenvolvimento da comunicação e da interação social, é indicado que sejam iniciadas as terapias: “Quanto antes esse mapeamento acontecer, recomenda-se que seja iniciada uma intervenção precoce para garantir um estímulo mais forte ao desenvolvimento de habilidades”.
Características comportamentais e cognitivas de pessoas no espectro autista
“As principais características incluem dificuldades na comunicação verbal e não verbal, padrões repetitivos de comportamento, interesses restritos e sensibilidade sensorial”, afirma Carol.
Ainda segundo ela, muitas vezes, a primeira dificuldade percebida é o atraso na fala. Na sequência, quando o histórico é avaliado, nota-se que outras habilidades já estavam defasadas e passaram despercebidas a um observador menos experiente, ou pais de primeira viagem.
“Vale lembrar que alguns indivíduos podem apresentar a fala, passando despercebidos aos olhos dos pais e professores. Dificuldades em trocar de atividades ou ambientes, irritabilidade, seletividade alimentar e outras questões sensoriais podem aparecer em crianças que conseguem aprender a falar. Por isso é importante a procura por um profissional ao notar qualquer um desses desafios mencionados”, reforça.
Os mitos mais comuns associados ao TEA
Um dos principais mitos destacados por Carol é que a pessoa com TEA não tem vontade de interagir, por ter dificuldades de interação social: “Na minha prática, aprendi que há muitos autistas que querem interagir, mas enfrentam dificuldades para fazê-lo, seja pela dificuldade na fala ou na compreensão do cenário, do vocabulário, do déficit de habilidades sociais, etc.”
Outro mito comum é a relação que fazem do autismo com traumas ou à má criação dos pais: “O autismo é uma condição neurológica complexa e que tem correlações com questões genéticas diversas e não é causado por fatores psicossociais”, explica Carol.
“Por outro lado, vale lembrar que fatores psicossociais, como a falta de acesso a intervenções apropriadas, podem, ao longo do tempo, agravar os déficits e aumentar os desafios para a pessoa com TEA, aumentando as barreiras no seu processo de desenvolvimento e na obtenção de qualidade de vida e segurança ao longo da vida.”
Como apoiar adequadamente uma criança no espectro autista, seja em casa ou na escola
“O primeiro passo para apoiá-la é buscar informação”, afirma Carol. Ela destaca a importância do aprendizado sobre o transtorno e a busca por bons profissionais de suporte nas áreas de especialidade, para oferecer um ambiente ajustado às necessidades da criança.
“Ambientes estruturados, com comunicação clara, rotina previsível e acompanhamento de bons profissionais, ajudam a garantir que os pacientes desenvolvam melhor sua autonomia e uma participação em atividades sociais e educacionais.”
Um papel importante das famílias é cobrar o governo por políticas de inclusão, bem como acompanhar a escola e os profissionais envolvidos nos serviços prestados às pessoas com TEA. Isso ajuda para que toda a sociedade possa ser transformada e tornar-se mais inclusiva.
O prognóstico e as perspectivas de tratamento e desenvolvimento para pessoas no espectro autista ao longo da vida
Carol explica que o prognóstico varia bastante e depende de diversos fatores, incluindo o nível de suporte e intervenção recebidos, as características individuais da pessoa e suas habilidades: “Com intervenções adequadas, muitas pessoas no espectro autista podem levar vidas independentes e produtivas, enquanto outras podem precisar de suporte contínuo ao longo da vida”.
A realidade de quem cuida de crianças com autismo
No Grupo Atlas Copco, temos alguns colaboradores que conhecem a realidade de quem vive com TEA de perto. Fábio da Silva, Técnico de Campo na Atlas Copco, é um deles.
Pai de dois filhos diagnosticados com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), ele destaca a falta de informação e o preconceito como os principais desafios para cuidar de crianças nessas condições:
“Desde quando recebi o diagnóstico do meu primeiro filho, há nove anos, o acesso à informação vem melhorando, mas ainda está aquém do necessário. Além disso, temos que lidar com o preconceito, que chega de diversas maneiras, desde a negativa para matrícula em algumas escolas particulares, até os olhares e as atitudes ríspidas em locais públicos, na presença de crises que as crianças possam ter”, explica.
Além disso, a atenção e os cuidados que seus filhos precisam para enfrentar os desafios do dia a dia tornam a rotina cansativa, que é compensada quando consegue vê-los se superando a cada dia.
“O que nos faz ter força para seguir lutando na busca por mais inclusão e direito em nossa sociedade é, certamente, o amor aos nossos filhos. A terapia precoce, nesses casos, faz toda a diferença na vida de crianças com TEA, e precisa ser mais acessível para chegar a todos”, destaca.
Relatos como o do Fábio mostram como a jornada de pessoas no espectro autista é cheia de desafios, aprendizados e amor incondicional. O caminho para tornar o processo mais inclusivo e eficiente começa com o acesso à informação. Este post é um ponto de partida para quem quer dar o primeiro passo.
Que tal continuar se informando mais sobre o TEA?
Conheça mais sobre o trabalho da psicóloga Carol Alves. Confira, abaixo, os perfis no Instagram onde ela divulga seu trabalho e fala mais sobre os desafios e tratamentos para o TEA.
O Grupo Atlas Copco está aberto a todas as pessoas
No Grupo Atlas Copco, estamos comprometidos em promover a diversidade e a igualdade de oportunidades em nosso ambiente de trabalho.
Seja pelos programas de aprendizes, de estágio ou em um processo seletivo voltado a pessoas com uma certa experiência, o Grupo está sempre aberto a conhecer novos talentos. Vamos nessa?
É só clicar aqui e conferir nossas oportunidades e se cadastrar em nosso banco de talentos.